sábado, 3 de janeiro de 2009

 

Millor na Veja






UM A PROPÓSITO
Acontece tudo na bela Santa Catarina, inclusive virar República. A República Juliana, que durou apenas quatro meses mas já era um avanço (República é avanço, monarquistas?). Criada por um dos raros heróis autenticados por mim – o que não é pouco –, Garibaldi.
I Agora nessa dramática – trágica – enchente, tsunami, dilúvio, além das forças naturais, tivemos também inacreditáveis comportamentos escrotos por parte de, bem, vocês já leram e viram demais. Resumo: tinha policial roubando até sanduíche de pobre, esmola de cego, dentadura de banguela e fraldas geriátricas.
II Mas tem o lado positivo. Aquele modesto agricultor que perdeu tudo mas não perdeu a vergonha. De algum lugar não identificado doaram um casaco. O casaco foi doado, embrulhado, viajado, distribuído, escapou das milícias locais e chegou às mãos necessitadas do pequeno lavrador que botou uma dessas mãos no bolso do dito casaco – e lá estavam
20 000 pratas. Em dinheiro vivo. Uma mini-Sena. Pois bem, que é que fez o nosso herói, mirando-se no perfil longínquo de Garibaldi?
Chamou o distribuidor das doações e devolveu o dinheiro. Não pediu nem comissão, coisa que, de pleno direito, qualquer deputado pede por uma leizinha à toa.
Dúvida maldosa, em qualquer outro país, mas automática neste vazadouro: o que é que o receptador oficial fez com o dinheiro?
III Quer dizer que tem neguinho aí que nem sabe que tem 20 000 no bolso de um casaco velho? Quanto ele terá no bolso de um casaco novo? Quanto ele terá num Paraíso Fiscal?
DOIS A PROPÓSITO
Essa garotada aí do Congresso Nacional, que tem em média 30 anos de idade, não conhece o sentido e o valor de certas palavras. Você e eu, que já passamos dessa faixa, conhecemos.
Exemplo: nesse mutirão de quero-o-meu, nessa terra de ninguém de quem quiser, de repente se aponta, se identifica, com ficha, CPF, registro policial e tudo o mais, um deputado ou senador, ou governador, que roubou dinheiro, comprou o cargo, empregou a própria mãe e estuprou uma cachorrinha menor de idade, e, horror!, está envolvido em assalto a banco com justa causa.
Depois de rigoroso processo – dezessete anos de etapas – o Congressso decide afastar da vida pública o acusado. Por que, ô meu? Porque roubou, porque matou, porque comprou cargos, porque distribuiu cargos? Não senhor. Por falta de decoro parlamentar.
Fico perplexo: aprendi, já em criança, que falta de decoro era sair da privada sem fechar a braguilha.
TRÊS A PROPÓSITO
Agora que todo mundo chama a crise financeira global de Esquema Ponzi, tenho orgulho, vaidade, de dizer que conheço o homem há bons anos. Praticamente desde seu primeiro golpe, que antes experimentou na prática, de venda de selos espanhóis com tarifa bem abaixo do valor com que eram vendidos nos Estados Unidos. Percebeu que o lucro era grande, Pediu 10 dólares emprestados ao dono da pensão em que morava, prometendo devolver 15 em um mês. Fê-lo (como diria Jânio Quadros) e começou daí a sua gloriosa carreira.
Simplificando: logo depois havia filas de policiais a cavalo para organizar as pequenas multidões que corriam pra depositar dinheiro em sua casa bancária. "Não me deram tempo", dizia ele, como dizem todos os criadores de pirâmides que o imitaram posteriormente (no Brasil o húngaro Peter Kelemen). As entradas cada vez maiores dariam para amortizar os juros altos dos primeiros aplicadores.
Mas nosso amigo italiano (parmigiano, como o queijo) era poda. Preso, as pessoas, ansiosas, ainda o procuravam na prisão, hipotecando-lhe solidariedade e dinheiro.
Solto, Ponzi continuou sua gloriosa carreira chegando a doar cotas de vastas terras na Califórnia. Os terrenos eram doados. O futuro proprietário não hesitava – pagava só a escritura, 20 dólares. O homem era um gênio: os terrenos, em lamaçal gigantesco, não valiam nem um dólar.
Encurtando: Ponzi veio bater com os costados no Brasil, não muito velho, mas doente e bastante envelhecido. Diziam que tinha arranjado um bico aqui, na sucursal da Assicurazioni di Trieste e Venezia. Mas acabou morrendo no Hospital São Sebastião.
Ao repórter David Nasser, último a entrevistá-lo, declarou: "A única diferença entre mim e o Pierpont Morgan é que ele deu certo".
MORAL: Com 20 anos de idade, o jornalista aqui atuante, numa sacada na Avenida Atlântica, durante a guerra (uma delas), ouviu de um amigo, da mesma idade, fiscal do Serviço de Fiscalização de Racionamento de gasolina (ele já envolvido em processo de corrupção), uma lição inesquecível. "Millôr, não dá em nada. E os idiotas estão sempre aí. É só chamar que eles vêm no pio."

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